terça-feira, 16 de junho de 2009

Destrinchando a mídia-Eleições no Irã,protestos e prisões


http://virgiliofreire.blogspot.com/2009/06/destrinchando-noticia-eleicoes-no-ira.html

As eleições desta semana no Irã deram esmagadora vitória ao Presidente Mahmoud Ahmadinejad, que obteve 62% dos votos contra 33% de Mir Hussein Mousavi, candidato “reformista” que certamente iria reverter várias da políticas do Presidente atual.

O comparecimento na eleição foi de mais de 80%. Na primeira eleição de Ahmadinejad, na qual ele venceu com 65% dos votos, o comparecimento foi de 48%. Segundo a comissão eleitoral, Mousavi teria perdido até em seu próprio distrito, apesar do enorme número de seguidores que atraiu durante a campanha.

Na notícia do jornal Estado de São Paulo surge o seguinte trecho:

Segundo analistas, sempre que o comparecimento nas eleições iranianas é alto, os reformistas costumam ser favorecidos.

O jornal não cita a fonte, nem quem são os “analistas”. Guarde na memória este fato.

As eleições foram realizadas na sexta-feira. No sábado pela manhã surgiu uma notícia de que o candidato derrotado, Mir Hussein Mousavi, estava preso.

Esta notícia foi dada logo de manhã horário de Teerã, e apenas um jornal a publicou: O Haaretz (הארץ, "O País"), diário israelense. Nenhum outro jornal do mundo confirmou a notícia, lembrando que New York Times, The Guardian, Telegraph, Spiegel, El Pais, etc., todos têm correspondentes em Teerã.

Acho improvável que o Haaretz tenha um correspondente no Irã. E se tiver, certamente seria lógico esperar que fosse também um agente do Mossad, o Serviço de Inteligência de Israel. A notícia não prosperou, nenhum outro orgão da mídia confirmou, e simplesmente morreu... e o Haaretz não deu nenhum desmentido. (Isto se chama “Guerra de Informação e Contra-Informação”e todos os países a praticam em defesa de seus interesses. Mas cabe a nós tentarmos separar o que é realmente informação do que é “plantado”pelos serviços de Informação e Contra-Informação.

Surgem então ainda no sábado notícias de tumultos, confrontos entre adeptos do candidato perdedor e a polícia, prisões, a imprensa ocidental em peso coloca em dúvida a lisura das eleições, numa tentativa nítida de enfraquecer a posição de Ahmadinejad, que por coincidência tem a audácia de enfrentar os Estados Unidos.

Hoje, domingo, O vice-presidente dos EUA, Joe Biden, disse que a reeleição do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad é muito duvidosa e que seu país irá analisar mais informações vindas de Teerã antes de se manifestar.

"Há uma grande quantidade de dúvida sobre o resultado", disse Biden ao canal NBC. O vice-presidente se negou a responder se os EUA vão reconhecer o resultado das eleições. "Vamos aceitar o resultado por enquanto, mas há muitas dúvidas sobre essa eleição," completou.

Biden ainda questionou se a vitória de Ahmadinejad era o resultado que o povo iraniano queria." Não sabemos ainda se os votos foram contados de maneira justa", disse Biden. "Ao que tudo indica, há censura e repressão desde a eleição de sexta".

Neste domingo, Ahmadinejad acusou a mídia internacional de espalhar propaganda contra o Irã e descreveu as eleições presidenciais de sexta-feira como um "modelo para o mundo". O presidente iraniano disse ainda que a série de protestos não era importante e a comparou ao descontentamento de uma torcida de futebol.

Em uma entrevista coletiva, o líder iraniano disse que o pleito foi um "momento épico", insistiu que a votação foi livre e acusou a mídia internacional de não querer aceitar sua "vitória esmagadora".

"Quarenta milhões de pessoas participaram da votação. Como eles podem questionar isso?" indagou Ahmadinejad.

Prossegue o jornal:

Protestos e prisões

Manifestações contra Ahmadinejad tomaram as ruas de Teerã pelo segundo dia seguido. Partidários do reformistas se reuniram no centro da cidade e atiraram pedras contra a polícia. No site Twitter, oposicionistas combinam uma manifestação para a praça Vali-Asr, mas a campanha de Mousavi pede que ninguém vá, para evitar novos confrontos.

No sábado, protestos irromperam pela capital. Manifestantes pró-Mousavi entraram em confronto com a polícia. Ao menos 60 pessoas, segundo a polícia, foram detidas. Mas de acordo com fontes da oposição, o número total de presos pode chegar a 100.

Vale lembrar que Ahmadinejad está levando em frente um programa de desenvolvimento de armas nucleares que permitirá – ou talvez já permita – que o Irã consiga atingir Israel com ogivas nucleares (Israel já consegue atingir o Irã com uma de suas 200 ogivas nucleares).

Ou seja, está em jogo todo o poder no Oriente Médio, e Israel tem deixado claro que faz e fará tudo que for possível para impedir que Ahmadinejad consiga ter armas nucleares. Israel até pediu que George Bush autorizasse bombardeios israelenses aos locais de desenvolvimento e pesquisa de armas nucleares do Irã, mas Bush já estava em final de mandato, com a popularidade em baixa, seu país em profunda depressao econômica, e não podia autorizar um ato de loucura bélica dos israelenses arriscando uma escalada perigosa no Oriente Médio, envolvimento da China, piora da economia,etc.

Israel não conseguiu o ok para atacar o Irã antes da posse de Barack Obama, e o máximo que conseguiu foi mostrar as garras, fazendo um “exercício” de ataque aéreo ao Irã, divulgado amplamente em todo o mundo.

Guarde este dado – Ahrmadinejad e o programa nuclear do Irã são uma questão de vida ou morte para os Israelenses.

Agora, para voce poder ir entendendo melhor as peças do quebra-cabeça, um pouco de história.


Foi um golpe que depôs o governo democraticamente eleito do primeiro-ministro Mohammed Mosaddeq. Foi organizado pelo norte-americano Kermit Roosevelt, Jr e pela CIA com a ajuda do MI6 da Grã-Bretanha. Eles tiveram a colaboração de iranianos pró-ocidentais e oficiais do exército iranianos anti-Mossadegh, incluindo os aposentados General Fazlollah Zahedi e o Coronel da Guarda Imperial Nematollah Nassiri, funcionários subornados do governo iraniano, jornalistas e empresários para derrubar Mossadegh e estabelecer um governo pró-EUA e Reino Unido.

A operação orquestrada pelo Reino Unido e os Estados Unidos para derrubar o governo de Mohammed Mosaddeq, ocorreu graças aos esforços de Kermit Roosevelt, que trabalhava para a CIA em uma operação encoberta, que subornou as diferentes posições do governo iraniano, o que facilitou o golpe.

Segundo a BBC, a Grã-Bretanha, motivada pelo risco de perder seu controle sobre campos de petróleo iraniano, financiou subornos concedidos aos oficiais militares, meios de comunicação social e outros. O projeto de derrubar o governo iraniano recebeu em comunicações dos governos americano e britânico, a denominação de Operação Ajax (oficialmente TP-Ajax). O golpe restaurou Mohammad Reza Pahlevi a posição dominante na política iraniana.

Os motivos americanos e britânicos para o golpe de Estado incluem controle do petróleo do Irã e a oposição a hegemonia soviética no Irã e na região. As motivações iranianas para deporem Mosaddeq incluem a insatisfação clerical com um governo secular, a propaganda e a desinformação por parte da CIA.

Inicialmente, a administração Eisenhower considerou a Operação Ajax um sucesso, mas atualmente acredita-se que o Golpe deixou um "assombroso e terrível legado" de forte anti-americanismo na Revolução iraniana e na República Islâmica, repercutindo no terrorismo anti-americano.

Ou seja, desde a década de 1950 a CIA e os Estados Unidos atuam subterraneamente para manipular o poder no Irã, a fim de obter controle do petróleo, e recentemente, também defender as conquistas territoriais de Israel e a estratégia de limpeza étnica israelense.

O jornal Asia Times de 25 de Abril de 2006 publicou notícia de que os Estados Unidos estavam realizando operações secretas no Irã – chamadas de “Black-Ops” a fim de desestabilizar o país e derrubar o regime, ou evntualmente preparar um ataque americano. Os agentes são iranianos, provavelmente recrutados nos Estados Unidos ou através das embaixadas em Dubai e Ankara.

O veterano jornalista Simon Hersh publicou artigo na revista The New Yorker revelando que a administração Bush havia aumentado as atividades clandestinas no Irã. Hersh escreveu que tropas americanas haviam se infiltrado no país a fim de manter contato com grupos dissidentes e minorias étnicas. Segundo Sam Gardiner, coronel reformado do Exercito Americano, Bush não informou o Congresso sobre o aumento das atividades secretas. Em Janeiro de 2006 um avião militar dos Guardas Revolucionários foi abatido, matando 11 dos principais comandantes da GR, incluindo o General Ahmad Kazemi, comandante das tropas terrestres do GR, e o General-Brigadeiro Nabiollah Shahmoradi, vice comandante das operacóes de inteligencia. O Irã acusou os Estados Unidos e a Grã-Bretanha de terem abatido o avião usando meios eletrõnicos.

O jornal Telegraph de Londres, bem como outros, noticiou no dia 27 de maio de 2007 que o Presidente Bush havia dado autorização especial à CIA para conduzir operações secretas, de sabotagem, de coleta de informações e de contra informacões.

Lembre: Maio de 2007. Estamos em Junho de 2009, e não há noticia de que esta ordem nem as atividades de “Black-Ops” tenham sido suspensas.

Portanto, não é coincidência que haja tumultos em Teerã, que os Estados Unidos “tenham dúvidas sobre a eleição”, ou que um jornal israelense noticie que o candidato perdedor está preso – e não confirma. Todos os passos para a deflagração dos tumultos e provocar a polícia já estavam planejados há meses.

Os jornais conseguem noticiar algumas atividades da CIA no Irã, mas muito mais secretas são as atividades da NSA, National Security Agency, da qual o mundo pouco sabe, além de que é um orgão do Governo Americano que atua na area de Inteligencia e Contra Inteligencia.
Portanto, nào acredite em tudo que os jornais dizem. Existe um jogo de cartas muito altas em andamento.

Lembre: As coisas nunca são tão simples como parecem

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